A UTILIZAÇÃO DE DRONES NA LOGÍSTICA DA AJUDA HUMANITÁRIA por Ana Paula Nunes

Ana Paula Nunes é Enfermeira, Licenciada em Psicologia, Doutorada em Bioética, Docente Universitária e aluna da ISO-SEC em muitas formações das quais destacamos o Post-Master em Gestão de Catástrofes e Crises Humanitárias.
O trabalho de Socorro em contexto de Emergências ou Desastres, o trabalho humanitário em contexto de Catástrofe ou Crises Humanitária é complexo ou hiper-complexo e está longe de se basear apenas num conjunto de metodologias clássicas - tem necessariamente de ser dinâmico, de se mover com os tempos, de acompanhar os avanços científicos e tecnológicos colocando-os ao serviço das populações e comunidades de uma forma efectiva.
Neste âmbito, a Ana Paula Nunes fez uma brilhante reflexão sobre o uso de drones em ajuda humanitária, as vantagens e limites do seu uso, em particular no contexto da logística humanitária.
Convidamo-vos a lê-la!
A UTILIZAÇÃO DE DRONES NA LOGÍSTICA DA AJUDA HUMANITÁRIA
Por: Ana Paula Nunes
Após desastres ou catástrofes naturais, atentados terroristas ou conflitos armados, e com o objetivo de fazer chegar o mais rapidamente possível assistência às populações, é iniciada uma operação humanitária onde os aspetos logísticos assumem um papel fundamental, representando 80% dos esforços envolvidos (1). A assistência às necessidades médicas, nutricionais, segurança, abrigo, saúde pública e sociais, são algumas das muitas ações da logística humanitária (2). Os eficientes e eficazes fluxos de bens, de serviços e de recursos humanos numa catástrofe, permitem o que todos os intervenientes mais anseiam, que se salve o maior número possível de pessoas.
A cadeia de fornecimento de bens durante uma catástrofe é complexa, uma vez que para além de haver elevadas necessidades e escassos recursos, as equipas operam em situações habitualmente caóticas e com elevados níveis de tensão. Para além disto, numa situação de desastre ou catástrofe, as infraestruturas críticas podem estar destruídas ou inoperacionais, as organizações de coordenação podem estar afetadas, a capacidade de transporte de bens e pessoas da área de operações e para a área de operações, pode estar limitada ou destruída. Neste contexto, a ajuda humanitária está muito dependente de processos logísticos, eficientes e rápidos, para o sucesso da resposta às pessoas vítimas da catástrofe.
Esta reflexão tem como objetivos, apresentar a importante e necessária aplicação dos drones na ajuda humanitária e as vantagens e limites do seu uso, no contexto mais estrito da logística humanitária. Pretendemos valorizar a possibilidade de os drones serem cada vez mais usados como ferramentas úteis, inseridos nos princípios de Humanidade, Neutralidade, Imparcialidade e Independência.
Os drones, termo mais divulgado e conhecido da população civil, tem a designação militar de Veículos Aéreos Não Tripulados, conhecidos pelo acrónimo de VANT, ou Aeronave Remotamente Pilotada (ARP), bem como pelo nome em inglês de Unmanned Aircraft System (UAS), ou ainda, Unmanned Aerial Vehicle (UAV). Contudo, há autores que fazem a distinção de Drone como aeronaves que não têm objetivos bélicos, e Remotely Piloted Aircraft System (RPAS), aeronaves que têm objetivos bélicos, uma vez que são equipadas com armamento. Os drones não são só instrumentos voadores, uma vez que há drones terrestres e marítimos. Neste sentido, qualquer dispositivo não tripulado comandado por um operador ou robot, no caso dos drones autónomos, ou pela associação entre comando humano e comando robótico, é considerado um drone ou um unmanned aerial vehicle ou unmanned combat air vehicle (3, 4).
Para enquadrarmos a utilização dos drones na logística da ajuda humanitária, importa traçar de forma sintética o que é logística e logística humanitária. Sendo ambas a ciência do planeamento, da execução do movimento e da manutenção, a logística são todos os aspetos que estão relacionados com os bens necessários, na quantidade necessária, com a qualidade exigida, no local certo, no prazo estipulado a um custo adequado e proporcional (1). Assim, a maior diferença entre a logística e a logística humanitária (LH) é o objetivo a alcançar, sendo que a primeira pretende o lucro pela maximização de receitas, redução de custos e satisfação do cliente pela qualidade do produto, e a LH tem como principal objetivo, salvar e diminuir ou eliminar o sofrimento ao maior número possível de pessoas, da forma mais célere possível com os recursos que tem. Para tal, a logística inclui a aquisição de bens, a sua distribuição no terreno, a manutenção dos meios, o apoio a infraestruturas e serviços, o apoio médico/saúde às populações, assim como, aos operacionais envolvidos.
Na LH pretende-se organizar a cadeia de assistência humanitária a comunidades que foram afetadas por desastres/catástrofes, e apresenta vários desafios. Assim, um dos elementos críticos da LH é o tempo, uma vez que as populações que necessitam de ajuda, necessitam que esta seja, a mais rápida possível. A intervenção da LH é temporária, havendo necessidades diferentes de acordo com as situações, os contextos e o tempo de duração das situações de exceção, sendo as crises humanitárias decorrentes de uma catástrofe, as situações que exigem mais recursos e durante mais tempo. Na LH os recursos são escassos e a sua gestão é complexa, uma vez que os desastres/catástrofes são imprevisíveis. Outro fator que a caracteriza, é que os beneficiários da LH não geram lucro, uma vez que são estes que consomem os recursos, pelas necessidades relacionadas com situações que não controlam. Tendo investimentos reduzidos, o desenvolvimento e a operacionalidade da LH está muito desfasada da logística empresarial (5, 31).
As atividades de logística a desenvolver na resposta a fenómenos hipercomplexos como as catástrofes, implica analisar e atuar nas seguintes etapas: 1 - o reconhecimento, cujas ações no terreno, são a avaliação da situação e a avaliação logística. Pretende-se com este reconhecimento, identificar a gravidade da situação, os recursos disponíveis e utilizáveis na zona afetada, de forma a identificar os recursos necessários. Para a prossecução destes objetivos, é necessário determinar a constituição de uma equipa para a gestão da crise; 2 - na etapa de salvamento, as ações a desenvolver envolvem o socorro às populações, no sentido de providenciar os cuidados médicos, a proteção e a garantia de restabelecimento das necessidades essenciais. Para tal, é fundamental resgatar as vítimas, triar e providenciar o atendimento correspondente, adequado e proporcional às necessidades apresentadas. Para corresponder ainda a esta etapa, é necessário identificar e classificar as áreas de risco, se há necessidades de evacuação das populações, se há riscos na área de saúde pública e providenciar a forma de os evitar, para que não se agrave mais a crise já existente. Para o restabelecimento das necessidades essenciais, é fundamental o rápido fornecimento de água, alimentos e abrigo. Para tal, é necessário também garantir o funcionamento de infraestruturas críticas como o fornecimento de energia elétrica, de água e das várias formas de comunicação; 3 - na terceira fase das ações logísticas, a manutenção da gestão da ajuda é determinante para a gestão das necessidades, dos abrigos e dos processos para continuar a avaliar e monitorizar as medidas implementadas; 4 - é fundamental recuperar e reestabelecer a normalidade da vida das populações e das comunidades, fechando-se assim o ciclo com a desmobilização (6).
A coordenação das intervenções dos vários agentes envolvidos em resposta a um desastre/catástrofe, é determinante para a eficácia dos resultados. Assim, deve de haver uma cadeia hierárquica com uma objetiva estratégia de comunicação, com uma definição das tomadas de decisão e uma clarificação dos papeis de cada um dos envolvidos, indivíduos e/ou organizações, quer seja a nível local, nacional ou internacional. Neste sentido, o transporte dos bens numa zona de catástrofe, têm uma influência determinante na resposta e eficiência da logística humanitária (7). O acesso à área de um desastre para levar os recursos necessários para socorrer as populações, pode ser um desafio para as organizações humanitárias, pelo que o meio de transporte selecionado deve apresentar um equilíbrio entre a eficiência que implica o custo do produto e a responsividade que implica a velocidade do transporte (7), apresentando cada uma das formas de transporte, vantagens e desvantagens. Ou seja, é necessário planear e por em ação, um transporte estratégico com capacidade para fazer deslocar os operacionais e o apoio logístico, de forma célere e para distâncias longas. Assim, os transportes rodoviários, têm como vantagem o facto de serem práticos, económicos em curtas distâncias, existirem redes ramificadas e itinerários flexíveis. Mas a sinistralidade, o consumo de combustível, a existência de redes danificadas e menos capacidade de carga comparativamente a outros meios, é uma desvantagem considerável. Os transportes ferroviários, apresentam como vantagem, a possibilidade de transportar uma elevada capacidade, uma reduzida sinistralidade, um baixo consumo de energia, uma rápida deslocação e uma quase ausência de constrangimentos de fluxo. Quanto às desvantagens, a limitação na rede ferroviária implica muitas vezes o transbordo das cargas. Os transportes marítimos, apresentam uma elevada capacidade de quantidade e qualidade de carga. Contudo, é um transporte lento, tem limitações para o transporte de materiais perecíveis e necessita de transbordos. Os transportes aéreos, têm como vantagem serem seguros, percorrerem longas distâncias de forma rápida, pelo que são adequados para o transporte de recursos materiais de urgência. Como desvantagens, temos o elevado custo e a localização dos aeroportos, que implica outro meio de transporte até ao local do desastre/catástrofe (8).
Os drones podem ser assim, uma solução de resposta eficiente e rápida para fins humanitários em situação de catástrofe, reforçando a esperança do uso da tecnologia para ajudar quem mais necessita (9). Os drones são instrumentos que podem ser usados logo nas primeiras fases da emergência/desastre/catástrofe, impedindo que as emergências se transformem em desastres e os desastres em catástrofe, coartando o continuum de magnitude do evento (10). Contudo, em qualquer fase da gestão de catástrofes, os benefícios são inúmeros, pois para além das informações que pode fornecer aos gestores de catástrofes e do apoio concreto que pode dar às vítimas, o valor acrescentado é a segurança dos operacionais da ajuda humanitária. Um operacional protegido e seguro, é um operacional que permanece no terreno para ajudar mais vítimas e durante mais tempo.
Foi em 1994, na Bósnia, que foram usados pela primeira vez os drones Gnat 750, para reconhecimento militar e vigilância, cujo objetivo era o apoio humanitário. Posteriormente, em 2006, foram utilizados drones pelas forças da Organização das Nações Unidas (ONU) e tinham como objetivo, proteger civis através de intervenções de vigilância, como a missão de paz na República Democrática do Congo, que utilizou quatro drones fornecidos pelas União Europeia (11), a missão de 2008, na República Centro Africana e no Chade (MINURCAT) (12), e em 2013, a missão na República Democrática do Congo (MONUSCO) (13, 14), todas com o objetivo de proteção de civis.
A utilização de drones em operações de busca e salvamento, teve um impacto muito positivo em catástrofes naturais, como nos incêndios na Califórnia em 2007 (15), no sismo no Haiti em 2010 (16), no acidente nuclear em Daichi, Fukushima, em 2011 (17) e no tufão das Filipinas em 2013 (18). Em 2015, drones com camaras sobrevoaram a ilha de Vanuatu no Oceano Pacifico, e permitiram não só identificar a localização das pessoas que estavam em perigo e socorrê-las, mas também fazer o mapeamento dos estragos provocados pelo ciclone Pam (19). Em 2015, no sismo no Nepal, os drones permitiram aos cientistas, imagens em tempo real, o que facilitou a elaboração de um planeamento mais realista da intervenção (20, 35) e também em 2015, os drones de vigilância permitiram fazer o acompanhamento de busca e salvamento de pessoas, após as inundações provocadas pelo rompimento das barragens de Santarém e Fundão, no Brasil (21, 22).
Ainda com o objetivo de salvar vidas, os drones estão a ser usados para vigilância de fronteiras, nomeadamente, no mar Mediterrâneo. Assim, o Sistema Europeu de Vigilância das Fronteiras (EUROSUR), utiliza drones para vigiar as fronteiras integradas na operação Mare Nostrum, que tem como objetivo salvar a vida de migrantes, para além do apoio a atividades militares e recolha de informações (intelligence). Sendo estas últimas atividades fortemente criticadas pela opinião pública, a utilização destes drones, permitiu diminuir significativamente o número de migrantes mortos no mar (23, 24). A Agência Europeia de Gestão da Cooperação Operacional nas Fronteiras Externas dos Estados-Membros da União Europeia (FRONTEX), considera que a monitorização das fronteiras marítimas pelo uso de drones, tem contribuído para a localização e resgate de migrantes em perigo no mar (25), conduzindo assim, a uma maior proteção da vida das pessoas que atravessam o Mediterrâneo (26). Neste sentido, a ajuda humanitária através do uso de drones, é uma forma de promover e proteger a segurança das pessoas e a dignidade do ser humano.
O número de crise humanitárias dispersas um pouco por todo o planeta, a rutura financeira que impede o pronto apoio nestas situações e os problemas operacionais, levam a que organizações não governamentais, organizações humanitárias e governos, tenham que alterar a forma de providenciar apoio humanitário para que a capacidade operacional seja mantida. Neste sentido, é necessário que a ajuda humanitária acompanhe o desenvolvimento tecnológico, sendo os drones um dos instrumentos mais promissores.
A potencialidade de utilização de drones é enorme. Assim, o seu emprego pode ser usado para localizar pessoas, permitindo às organizações providenciar meios para a busca e salvamento, identificar com precisão os danos causados nas infraestruturas críticas com difícil acesso, identificar e monitorizar rotas migratórias e deslocamentos internos, assim como, a previsão de situações de perigo. Permitem igualmente, identificar as necessidades prioritárias de populações em risco e providenciar a logística adequada a cada grupo de situações.
Os drones podem ser empregues para recolha de dados e monitorização de populações de áreas geográficas dispersas e inacessíveis, no sentido de identificar grupos etários, minorias étnicas, e agir em conformidade com as situações reais. A distribuição de alimentos, materiais de primeira necessidade e medicamentos, podem ser uma das múltiplas utilizações dos drones.
Para uma eficiente ajuda humanitária, é fundamental que os esforços de todos os envolvidos, sejam coordenados por uma linha de comando que se pretende eficaz, e que tome decisões rápidas com agilidade e flexibilidade. Para que tudo isto aconteça, tem que haver um fluxo e uma gestão de informação e de materiais efetiva. Neste sentido, a utilização de drones na logística em ações humanitárias apresenta um potencial por explorar.
As vantagens da utilização de drones, prende-se com o facto de serem economicamente acessíveis, comparativamente a outras formas de intervenção no terreno, apresentam um custo operacional baixo e são seguros. A colocação de bens de primeira necessidade em locais hostis e com conflitos em desenvolvimento, permitem que missões anteriormente arriscadas para os operacionais, possam com os drones ser executadas com segurança. Este tipo de recurso em situações de ajuda humanitária, tem como vantagem poder ser acionado de forma remota, controlado via internet, voar a baixa altitude e a velocidades reduzidas, captar imagens em tempo real, permitindo aos operacionais humanitários obter informações e flexibilizar planeamentos.
Na fase de prevenção, os drones podem ser úteis na vigilância e monitorização de regiões suscetíveis a desastres e alterações climáticas abruptas, fornecendo informações e levantamentos topográficos da área de operações para ajustar planeamentos e torná-los mais eficazes. Na fase de intervenção em catástrofes, os drones permitem a localização e resgate de vítimas em locais inacessíveis, ou que não reúnam as condições de segurança. Permitem igualmente obter e reunir informações atualizadas, credíveis e confiáveis, ajustar intervenções, direcionar meios e coordenar a ajuda humanitária. Sendo as primeiras 72 horas cruciais para a ajuda humanitária em situação de desastre/catástrofe (1), a utilização de drones acelera a obtenção de informações e agiliza a ajuda efetiva, com custos mais baixos. Este tipo de equipamento de ajuda, permite ultrapassar obstáculos provocados pelo desastre/catástrofe, colocando à disposição das vítimas recursos necessários em tempo útil.
O tempo para a distribuição de bens a populações afetadas, como água, alimentos, abrigos, roupa e produtos de higiene, é um dos maiores desafios da LH. Assim, os drones são o meio mais rápido e seguro para fazer chegar estes bens às populações atingidas. Os drones podem igualmente ajudar o gestor de catástrofes a calcular o número e as características das pessoas afetadas, para assim poder providenciar a quantidade e qualidade dos recursos necessário naquele momento. Outra aplicação dos drones na área da saúde, é a possibilidade de transportar material médico e desfibrilhador, para locais onde seja necessária uma intervenção por profissionais capacitados, possibilitando assim, aumentar a sobrevivência de pessoas que necessitam de reanimação. Os drones podem ser úteis na distribuição de sangue em locais inacessíveis, vacinas e medicamentos para doenças prevalentes como a SIDA, a tuberculose e a malária em zonas remotas. Na avaliação e monitorização do impacto ambiental em acidentes com materiais perigosos, a viabilidade técnica e económica dos drones, permite que as equipas intervenham de forma mais rápida, mais rigorosa e mais segura (27).
Para a aplicação de drones em situações humanitárias, estes devem descolar e aterrar em distâncias curtas, fazer voos diurnos e noturnos, devem ser estáveis em situações climáticas adversas, uma vez que grande parte dos desastres/catástrofes são provocados pelo clima. A equipa que manobra este equipamento deve estar capacitada para o operar e ter competência para que em menos de uma hora possa analisar as informações obtidas e responder em tempo real (27).
Os drones apresentam também como vantagem, a redução do consumo de combustíveis fosseis, a diminuição da redução de emissão de dióxido de carbono (CO2) e consequentemente, repercussões positivas para o ambiente. Os drones não vão substituir na totalidade as ações desempenhadas por operacionais, mas são um importante apoio técnico e logístico para responder com competência à ajuda humanitária. As informações recolhidas por drones na ajuda humanitária, permite a reformulação de estratégias e planos táticos, no sentido de melhorar a intervenção operacional.
Em logística humanitária, quatro dos aspetos mais importantes a ter em conta, relativamente aos bens necessário são: a quantidade, a adequação, a utilidade e o acesso (2). Assim, a utilização de drones para uma rápida distribuição de bens, permite gerir com mais facilidade a generosidade e a solidariedade, que perante uma catástrofe leva a uma elevada doação de bens. No entanto, se os bens doados não corresponderem aos quatro critérios mencionados anteriormente ou se não forem rapidamente distribuídos para a área de operações, podem constituir-se como um "pesadelo" logístico ou second disarter, que prejudicam não só as atividades como causam entropia. Armazenar bens doados em excesso, implica ter um local para não ficarem expostos às forças da natureza e isto exige muitas vezes pagamento de aluguer de espaços e de pessoal de vigilância. Deitar fora bens que se deterioram, implica recorrer a recursos humanos, e isso exige tempo e desperdício financeiro, sendo que este tipo de ações leva ao desvio do foco da resposta à emergência e o atraso na chegada de bens verdadeiramente essenciais. Porque ser solidário não é dar o que temos a mais, mas dar o que faz falta a quem não tem. Num desastre ou catástrofe, o lado emocional da doação de bens, fica muitas vezes desfasado da racionalidade de uma operação logística, pelo que informações adequadas e pertinentes para a gestão de recursos materiais e humanos, são determinantes para a construção de modelos de intervenção, que evitem o desperdício e otimizem os bens. Também nestas situações, a rápida distribuição de bens a partir de drones, pode ser uma forma de aliar a tecnologia e a gestão logística da solidariedade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os desafios colocados à logística humanitária vão desde a avaliação do real impacto do desastre/catástrofe, da triagem das vítimas, do atendimento às necessidades iniciais, da preparação e deslocação de recursos, assim como, da triagem do material doado. Para além destes aspetos mais internos, há que contar com outros aspetos desafiantes e complexos que implicam diretamente com as operações logísticas, como os fatores externos, as alterações do clima e a instabilidade geopolítica de alguns contextos. A imprevisibilidade dos fenómenos e a incerteza que implicam, levam a que a logística humanitária seja dotada de um planeamento adequado, mas que ao mesmo tempo seja flexível e que se adapte às circunstâncias, como forma de racionalização de recursos, e para evitar perda de bens e desperdício de tempo. Neste sentido, é determinante que os processos logísticos de apoio humanitário, sejam elaborados e implementados de forma sistematizada, articulando as infraestruturas, a coordenação de processos e a centralização da assistência.
Apresentámos ao longo desta reflexão, como o desenvolvimento tecnológico dos drones, poderá contribuir cada vez mais no futuro para a ajuda humanitária, nomeadamente, na logística humanitária, representado assim um importante papel ético e moral. Decorre também desta pesquisa, a necessidade de clarificar os objetivos presentes em regulamentos nacionais e internacionais, sobre o uso de drones como recurso humanitário. Uma vez definido o seu uso estratégico, mais facilmente e mais rapidamente, poderá ser usado em situações de emergência, salvando pessoas e mitigando os riscos de situações imprevistas. Acreditamos que uma regulamentação adequada, contribuirá para o desenvolvimento deste equipamento, com uma aplicação moralmente obrigatória na logística humanitária.
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