AS DIMENSÕES GEOECONÓMICAS DAS EMPRESAS MILITARES PRIVADAS NA POLÍTICA EXTERNA RUSSA – O caso do Grupo Wagner por João Branquinho

João Branquinho
Militar de profissão, licenciado em Estudos Europeus e Política Internacional, pela Universidade dos Açores.
Frequenta atualmente o Mestrado em Ciências Económicas e Empresariais, na especialização em Economia e Políticas Públicas, também na Universidade dos Açores, e pretende, no próximo ano, iniciar o Doutoramento em Teoria Política, Relações Internacionais e Direitos Humanos.Completou, com a mais alta classificação, o curso de Inteligência Estratégica Avançada, e frequenta atualmente o curso de Contrainteligência Estratégica Avançada, ambos da ISO-SEC.
No decorrer da guerra da Ucrânia, o Grupo Wagner tem sido alvo de maior escrutínio público a nível global, embora a sua margem operacional, não se limite apenas ao território ucraniano, estendendo-se a outras zonas geográficas de interesse do Kremlin.
Historicamente, o uso de empresas militares privadas usadas por Moscovo, para servir os seus interesses de política externa, advém do período do processo de privatização na Rússia, após o colapso da União Soviética, no qual, se destaca na década de 90, atuação em diversos teatros de conflito, nomeadamente na guerra dos Balcãs e na luta contra rebeldes pró-democracia no Tajiquistão.
Abordando em concreto o Grupo Wagner, estes mercenários, exercem atividade operacional, em praticamente todos os continentes do globo, com forte presença em África, Ásia e América do Sul.
A estratégia geoeconómica russa, passa por conceder por braço operacional do Grupo Wagner, serviços de segurança, assistência técnica e acessoria militar em estados estruturalmente frágeis, mas dotados de recursos naturais e tradicionalmente apoiados pela Rússia, em troca de concessões e acessos a estes mesmos recursos, de forma a garantir estabilidade à sua economia.
Pode realçar-se uma forte presença do Grupo Wagner, em prol dos interesses geoeconómicos da Federação russa, em estados como a Síria, o Sudão, a República Centro-Africana e a Venezuela, países ricos em petróleo, gás natural, ouro, urânio e diamantes, não obstante o comércio das armas, no qual historicamente estes países têm laços com a Federação russa.
Através da concessão e proteção destes recursos, a Rússia aproveitando a debilidade soberana e de segurança destes países, utiliza como ferramenta geoeconómica o Grupo Wagner, para estes fins, garantido os interesses da política externa russa, e subsequentemente o aumento da sua esfera de influência nos quadros geopolíticos regionais e internacionais.