en-O LADO NEGRO DA SOMBRA por Vera Calisto

31/08/2022

Licenciada em Assessoria de Administração, pela UALG - Universidade do Algarve;

Pós-graduada em Relações Internacionais e Estudos Europeus, pela UE - Universidade de Évora; possuindo formação complementar na mesma área;

Completou, com as mais altas classificações, o High Degree em Intelligence Estratégica e Terrorismo Global, como, igualmente a formação de Human Intelligence Collector Operational.

Detém ainda vários cursos nas áreas do Terrorismo, Contra-Terrorismo, Inteligência e Informações e ainda no âmbito das Geopolítica e Investigação Privada.

É um dos mais graduados elementos da ISO-SEC nas áreas em que se especializou.

Nunca, como hoje, com a guerra da Ucrânia, se falou tanto em Serviços Secretos, Serviços de Informação, Agências de Intelligence. 

De facto, neste ambiente de incerteza, a Informação é de um inestimável valor, porque quem tem as melhores informações tem infinitamente mais hipóteses de alcançar a vantagem, o sucesso e a vitória. 

No entanto (e poucos sabem), o mundo da Inteligência, das Informações, o "mundo sombrio" dos Serviços Secretos já não pertence só aos Estados e às Nações. 

A iniciativa privada está, a passos largos, a conquistar grande parte da atividade e do mercado, afirmando a prestigiada revista FORBES que o "negócio das informações" é uma das 5 áreas com maior desenvolvimento na próxima década. 

A nossa especialista em Inteligencia e Informações, Vera Calisto, explica, muito sucintamente, afinal, o que são as Agências Privadas de Informações.


O LADO NEGRO DA SOMBRA

Por: Vera Calisto

Num mundo em constante e rápida mudança é fundamental ter a informação certa, no momento certo, saber utilizá-la devidamente e, acima de tudo, saber protegê-la. Nem sempre estão reunidos os requisitos e as condições para que esses procedimentos sejam executados criteriosamente, com rigor e método. Atualmente, algumas empresas, instituições e indivíduos recorrem às PICs (Private Intelligence Company), para auxiliar nesse processo, direcionando assim tempo e recursos para aquilo que são os seus principais objetivos.

As PICs, são empresas privadas, que prestam serviços no âmbito da recolha de informação, como ferramentas de apoio à decisão e atuam também no setor de proteção e segurança. As PICs prestam serviços nas mais diversas áreas, como a gestão, tecnologia, defesa cibernética, crises e risco político, e também na luta contra o terrorismo.

A procura deste tipo de serviços, deve-se sobretudo a três fatores. Nunca antes a segurança esteve tão reforçada, e, ao mesmo tempo tão fragilizada; nunca antes a informação foi tão valiosa; nunca antes a concorrência entre empresas foi tão significativa.

Desde cedo se descobre que quem detém os segredos, o conhecimento e a informação, é quem lidera. Consequentemente, cedo se aprende que é imprescindível aprender a guardar e preservar segredos, conhecimento e informação. Fatores como os conflitos armados, os extremismos, ou as disrupções tecnológicas intensificam o nível de ameaças e, consequentemente, a guerra da informação, a guerra pelo poder.

Durante o final da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética, as potências começam a jogar os seus interesses em áreas mais lucrativas como as financeiras e comerciais, exponenciando assim a concorrência entre empresas e, consequentemente a espionagem industrial. Esta atividade consiste em tentar ter acesso a informação de outras empresas quer através de meios tecnológicos, quer através de pessoas, ambos susceptíveis a vulnerabilidades que podem ser exploradas pela concorrência. Desta forma, tornam-se fundamentais os métodos de proteção de informações estratégicas, através de contra-intelligence.

A busca pela informação e pelo conhecimento acompanha-nos desde os primórdios até aos nossos dias, atualmente dois dos principais métodos de recolha de informação são o OSINT (Open Source INTelligence) e o HUMINT (HUMan INTelligence). O método OSINT consiste na recolha de informação através de fontes abertas, ou fontes públicas e os principais meios utilizados são os meios tecnológicos. Nunca como antes se teve acesso a tanta informação e, simultaneamente, a tantas campanhas de desinformação. Desta forma, e devido à sua instrumentalização, as fontes abertas, tendo como principal apoio o recurso aos meios tecnológicos, originam também novos desafios.

Perante os desafios apresentados pela OSINT, é imprescindível o método HUMINT. Este método consiste na recolha de informação efetuada no terreno através do fator humano, com recurso a observação e investigação, de modo a que seja recolhida a informação mais fiável e assertiva para os objetivos pretendidos. O método HUMINT, o mais ancestral, é de extrema importância no contexto das informações estratégicas, pois nenhum outro método substitui o fator humano.

O tabuleiro geopolítico move-se e os atores posicionam-se ganhando novas dimensões, é imprescindível acompanhar cada movimento. Num mundo cada vez mais competitivo e vertiginoso é crucial prever cenários para se poder tomar a decisão certa, ou até mesmo, a não decisão. Suprimir ameaças e potenciar pontos fortes, são fatores que podem significar a diferença entre avançar e ficar estagnado. Desta forma, é necessário proteger ativos, informações e indivíduos através do combate à espionagem, por isso as PICs são importantes, para fornecer serviços de contra-intell.

Assim, considerando a conjuntura atual, as PICs assumem um papel cada vez mais relevante, pois é essencial o recurso a profissionais capacitados de competências e métodos, que possam fornecer as melhores ferramentas de apoio à decisão e de proteção. Para isso, é necessário a especialização de agentes nas mais diversas áreas, de forma a poderem fornecer serviços especializados e se consolide o mercado das PIC, que está em franca expansão e apresenta uma capacidade de crescimento enorme nos próximos anos.

É fundamental que empresas e instituições sejam proativas, identificando ameaças e protegendo ativos tangíveis ou intangíveis e, o mais importante, o Fator Humano, o elo mais frágil... o elo mais forte!