en-POSSO NÃO CONCORDAR COM O QUE DIZES... por Sónia Silva Franco

18/03/2022

Sobre a Liberdade de Expressão no contexto da Pandemia e do atual conflito Europeu.

Por: Sónia Silva Franco

Nascida no Funchal, Sónia Silva Franco dedicou-se desde cedo ao mundo do jornalismo. Após 30 anos de carreira, enveredou por uma paixão antiga: a História. Concluída a licenciatura, decidiu criar a empresa Arteleia com o intuito de tornar acessível a todas as pessoas a escrita e a publicação de livros de memórias. 

«Posso não concordar com o que dizes, mas defenderei até a morte o teu direito de dizê-lo».

S. G. Tallentyre (Evelyn Beatrice Hall)

Primeiro foi a guerra contra um inimigo invisível chamado COVID-19. O medo, o pânico, os internamentos, as mortes. 

As nossas mortes. O sufoco. As mortes dos outros. Os de longe. Os de países distantes. 

Vieram os alertas, as resoluções, as campanhas. 

De arco-íris pintou-se a esperança num quotidiano afogado num tsunami de notícias e de "notícias". 

A dor e o pavor vendem. Prendem audiências. Aumentam seguidores. O espetáculo também.

Surgiram as dúvidas, as perguntas, as suspeitas, os movimentos, a oposição contra medidas. Ergueram-se cartazes de protesto, fizeram-se manifestações. E eis que montada no seu cavalo branco da censura, envergando uma armadura reluzente com as cores da sua "liberdade" e outros tons obscuros, apareceu a Inquisição dos tempos modernos disposta a "salvar" a humanidade de... humanos desalinhados.

De lança afiada, protegida por cúmplices da gestão da Coisa Pública nos diferentes países do dito "mundo civilizado", fizeram-se julgamentos sem direito a defesa, arruinaram-se pessoas, construíram-se guetos, rotularam-se cidadãos sem respeitar o princípio elementar de que os tais negacionistas parvos, ou menos parvos, também existem e também têm os seus direitos.

«Posso não concordar com o que dizes, mas defenderei até a morte o teu direito de dizê-lo».

S. G. Tallentyre (Evelyn Beatrice Hall)

Omnipresente, omnipotente e omnisciente, a endeusada Inquisição dos tempos modernos não teve mãos a medir, ou melhor, algoritmos a medir, nos milhões de processos para decidir quem vive e quem morre nessa complexa definição de liberdade de expressão.

Instalou-se a censura do que pode ou não pode ser escrito, publicado, partilhado. Alguém, algures no mundo, ganhou o desmesurado poder de confinar pensamentos, silenciar a comunicação seja ela correta ou disparatada. E nós deixamos... 

«Posso não concordar com o que dizes, mas defenderei até a morte o teu direito de dizê-lo».

S. G. Tallentyre (Evelyn Beatrice Hall)

O tal inimigo invisível foi substituído por outros de carne e osso e com uma força ainda maior, um novo tsunami arrasta tudo e todos num turbilhão de drama, pânico e horror escarrapachados em telemóveis, sites, televisões, jornais, vídeos. A dor e o pavor vendem. Prendem audiências. Aumentam seguidores. E de novo, lá aparece a Inquisição montada no seu cavalo branco da censura, controlando o que dizes, o que pensas, o que procuras e o que vês. Os boicotes às fontes de informação, sejam elas quais forem, revelam-te que não tens lugar no mundo desse julgador parcial.

Não podes procurar saber mais do aquilo que te é permitido, nem tens tão pouco o direito de questionar o pensamento único de rascunhos mal amanhados, mas igualmente perigosos, de Benitos e de Adolfos que não toleram, nem admitem que faças uma pergunta diferente, condenando-te ao fogo eterno do inferno se tentares reunir o máximo de informação possível, de várias fontes, para depois analisares e decidires o que bem entenderes. 

«Posso não concordar com o que dizes, mas defenderei até a morte o teu direito de dizê-lo».

S. G. Tallentyre (Evelyn Beatrice Hall)


Sónia Silva Franco 

12 de março de 2022