
O ESTADO ATUAL DO VOLUNTARIADO NA AÇÃO HUMANITÁRIA: Um Olhar sobre a Crise Global, a Questão Migratória e a Imigração Venezuelana por Graziela Camargo

Natural de Vitória, Brasil, vive atualmente no Porto, em Portugal. Profissional humanitária com 15 anos de experiência, trabalhou com indígenas do povo Yanomami em zonas isoladas da Amazônia e no acolhimento a crianças indígenas venezuelanas no Brasil.
Atuou por três anos na coordenação de abrigos de refugiados implantados pela ONU em Boa Vista, no norte do Brasil - dentre eles o segundo maior da América Latina, com mais de 1000 beneficiários residentes.
Coordenou parcerias e projetos da Cruz Vermelha Brasileira no contexto migratório no Brasil.
Em um mundo assolado por guerras, conflitos e uma crise climática cada vez mais alarmante, as ações humanitárias emergem como um farol de esperança, gerenciando e minimizando o sofrimento humano em meio ao caos. Nas últimas décadas, testemunhamos um notável crescimento no número de organizações dedicadas a prestar assistência humanitária, garantindo uma maior diversidade e alcance às áreas mais necessitadas. Segundo dados do United Nations Office for the Coordination of Humanitarian Affairs (OCHA), essas ações são fundamentais para apoiar e mitigar o sofrimento em regiões afetadas por conflitos, desastres naturais e outras calamidades.
O voluntariado, historicamente, tem sido o pilar central da ação humanitária. Movido pelo desejo de aliviar o sofrimento humano, nasceu um movimento em que pessoas comuns se uniram para promover o cuidado e o bem-estar, principalmente entre as vítimas de guerra. Com o tempo, essa dedicação expandiu-se para outras áreas afetadas, tornando-se essencial para lidar com diversas crises humanitárias. De acordo com a International Federation of Red Cross and Red Crescent Societies (IFRC), os voluntários são peças-chave no trabalho humanitário, doando seu tempo, habilidades e energia de maneira genuína e desprovida de interesses pessoais.
É imperativo que as organizações humanitárias estejam aptas a atrair e capacitar esses voluntários, preparando-os para atuar de forma eficaz e responsável em contextos específicos. Para além da boa vontade, é necessário oferecer treinamento adequado e apoio psicossocial, a fim de lidar com as adversidades encontradas nessas áreas. Afinal, os voluntários devem ter em mente os princípios humanitários que regem suas ações. Em zonas de conflito, por exemplo, é comum depararem-se com desconfiança e hostilidade. Já em situações de desastres naturais, as motivações dos voluntários podem ser questionadas. Portanto, é essencial que as organizações sérias ofereçam suporte abrangente, incluindo capacitação e apoio psicológico, conforme destacado pela IFRC.
A questão migratória global tem sido uma das principais preocupações humanitárias da atualidade. Nos últimos anos, a imigração venezuelana tem desempenhado um papel significativo nesse contexto. A crise na Venezuela levou a uma onda de migração em massa para países vizinhos, incluindo o Brasil. Roraima, estado brasileiro localizado no extremo norte do país e próximo à fronteira com a Venezuela, tornou-se o epicentro desse deslocamento populacional. Segundo dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM), nos últimos cinco anos, mais de 1,3 milhão de venezuelanos atravessaram a fronteira em busca de melhores condições de vida.
Essa intensa migração venezuelana gerou desafios humanitários complexos, exigindo uma resposta efetiva e solidária. Estima-se que cerca de 480 mil venezuelanos se estabeleceram em todo o Brasil, tornando-os a maior comunidade estrangeira do país, superando haitianos, portugueses, sírios e bolivianos. Para lidar com a situação, o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), ligado ao Ministério da Justiça do Brasil, reconheceu oficialmente a grave e generalizada violação de direitos humanos na Venezuela, enquadrando os venezuelanos como refugiados.
Diante desse contexto desafiador, o voluntariado desempenha um papel crucial na assistência e no apoio aos venezuelanos deslocados. O ACNUR destaca a importância dos voluntários na prestação de serviços humanitários, desde a recepção e o acolhimento dos refugiados até ações de integração e suporte psicossocial. Esses voluntários contribuem para a promoção da dignidade e para a melhoria das condições de vida dessas pessoas vulneráveis.
Uma experiência pessoal vivenciada durante a crise venezuelana ilustra o poder transformador do voluntariado na ação humanitária em contextos migratórios. Em Boa Vista, capital de Roraima, um ginásio abrigava indígenas imigrantes em condições precárias. Diante da falta de apoio estatal, uma iniciativa voluntária surgiu com o objetivo de oferecer educação, recreação, ensino do português e, sobretudo, afeto, especialmente para as crianças e adolescentes desamparados. Desse movimento nasceu o projeto "Casa de los Niños", que posteriormente impulsionou outras ações humanitárias com o apoio de agências especializadas.
Essa experiência pessoal é apenas um exemplo do impacto transformador do voluntariado na ação humanitária em cenários migratórios. O trabalho dos voluntários é vital para promover a dignidade e garantir os direitos das pessoas deslocadas. É fundamental que mais pessoas se envolvam nessa causa nobre, encontrando maneiras de contribuir para amenizar o sofrimento e promover a integração dessas populações vulneráveis.
FONTES
OCHA - United Nations Office for the Coordination of Humanitarian Affairs)
IFRC - International Federation of Red Cross and Red Crescent Societies)
ACNUR - Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados)
OIM - Organização Internacional para as Migrações)
R4V - Resposta a Venezuelanos)
OBMigra - Observatório das Migrações Internacionais)