"SERVIÇOS DE INFORMAÇÕES PRIVADOS" (PICs) DESESCURECER A NECESSIDADE por Gonçalo Piriquito

Gonçalo Piriquito
Licenciado em Direito com um Mestrado Próprio em Cibersegurança.
Managing Partner da Stouz e co-Presidente e co-Fundador da Associação Portuguesa de Legaltech e Lawtech
Tem vasta experiência na deteção e monitorização de ameaças digitais e criação de Intelligence fundada em OSINT para grandes empresas portuguesas e para empresas dos EUA, Reino Unido e Países Baixos.
Igualmente tem experiência adicional de 10 anos em Gestão de unidades de negócio tecnológicas, Legaltech, E-learning, Privacy, Smart Cities e Sector Público.
Uma empresa privada de inteligência (PIC – Private Intelligence Companiy) leva-nos, imediatamente, para um contexto sombrio, onde blackops e o mercenarismo são o core business.
A realidade não é bem assim, antes pelo contrário.
As PICs, em termos de importância, estão para a segurança de empresas como os CSIRT (Computer Security Incident Response Team) estão para a cibersegurança.
São de necessidade estratégica.
Nas empresas competitivas é necessário antecipar tendências, alterações da realidade, detectar violações de ativos e segredos, é preciso calcular riscos e mitigá-los, é necessário garantir a continuidade do negócio e é necessário fazê-lo em tempo útil.
Assim as PICs actuam preventivamente, antes do problema acontecer e no espaço processual em que os orgãos de polícia criminal ainda não podem atuar.
Se uma PIC for bem sucedida, não há crime, não há dano ou, pelo menos, ambos serão irrelevantes.
Nesta nova Era Digital, grande parte da actividade empresarial moveu-se para o ciberespaço e, desta forma, as empresas e os seus decisores estratégicos passaram a ser mais facilmente monitorizados e todos os seus passos seguidos não por uma complexa e dispendiosa operação de vigilância humana mas por algoritmos que nunca dormem e nunca falham.
É no ciberespaço e na mente de alguns funcionários que se concentra toda a informação estratégica e geradora de diferencial positivo e é aí que agentes mal intencionados exploram todo o conhecimento gerado nas últimas décadas acerca de tecnologia e do comportamento humano para tornar mais exigente ainda a tarefa de guardar segredos.
A ligação do mundo físico ao digital permite-nos com mais facilidade detectar, monitorizar e antecipar ameaças reais aos negócios das empresas contudo esta ligação inserida numa Era de uma colossal quantidade de informação a ser transacionada a uma velocidade supersónica torna impossível aos gestores de empresas saberem o que, de relevante, se passa e passará para lá do seu perímetro provocando a tomada de decisão fundamentada em percepções erradas e facilmente manipuladas por portadores de interesses contrários.
No tempo do meu avô, com o contexto que existia, o auge seria ser o maior empresário da sua região e um bloco de notas e trabalho árduo chegava para esse objectivo, o adversário era o vizinho do lado que vendia o mesmo.
No tempo do meu pai, o auge era ser o maior do País e um computador básico e atenção à comunicação social chegava para tal e o adversário era a concorrência profissionalizada e sujeita aos mesmos contextos.
No meu tempo o auge é ser global e já não basta receber informação, temos de gerar informação. Informação analisada e contextualizada.
O nosso maior adversário é qualquer um, concorrente ou não, sujeito a diferentes contextos.
Podemos ser um concorrente directo do atacante ou um dano colateral de algo muito maior, podemos ser atacados por agências estatais ou por um adolescente que descobriu coisas poderosas na internet.
A bipolaridade estática transformou-se numa multipolaridade caótica e dinâmica.
É dai que nascem as PICs, não numa lógica de ataque ou de defesa do Estado mas para proteger as empresas, de forma transparente e com equipas multidisciplinares que sabem que o Mundo mudou e que a velhinha "Arte da Guerra" já não responde a tudo.
As PICs não são mais que uma mistura de consultora estratégica com empresa de análise de dados clássica onde se analisa os dados ponderando-os com a realidade multicontexto em que vivemos pois o seu mindset mais geopolítico e securitário leva-as a perceberem de raiz que o Mundo não se esgota dentro do perímetro da empresa e que as cadeias de impacto tem ramificações invisíveis ao olho comum.Há mais lá fora, há mais que se movimenta mais rápido e há com impacto em todos. Já não é possível uma empresa competitiva liderar um mercado sem intelligence e counterintelligence.